As paisagens, o tempo e a captura dos sentidos
- Adriano Floriani
- 6 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: 7 de mai.

Carregamos conosco as imagens e memórias dos lugares por onde andamos. Cada rua, praça ou esquina atravessada deixa em nós suas pegadas e rastros sutis — como se elas também nos percorressem...
Os cenários e paisagens ficam para trás, diluindo-se na pressa dos dias. Permanecem como um breve eco que persiste após o silêncio.
Capturamos com nossas câmeras fragmentos do tempo e do espaço de cidades e ambientes naturais, numa tentativa de aprisioná-los numa caixa, imaginando possuí-los para rememorá-los como nossos, quando assim o desejarmos.
Ignoramos que somos observados de volta nessa interação com os lugares, monumentos e obras artísticas.
Edificações, ruas, cenários históricos, florestas e vistas de tirar o fôlego quase sempre retêm algo de nós. São como buracos negros que sugam a luz dos nossos olhos para transformá-la em energia, seja ela boa ou ruim.
Colecionam, ao longo do tempo, tantos olhares, afetos ou rancores a eles dirigidos, que essas impressões em camadas vão formando mosaicos sobrepostos aos seus contornos e paredes. Mantêm, assim, inesgotável a fonte da sua aura mágica.
Cidades e biomas têm humores e vaidades. Temem nossa indiferença ou desprezo. Estão ali e acolá para tocar algo em nós, provocar, transformar, como se precisassem se nutrir dos nossos sentidos para justificar sua razão de continuar existindo.
Esses lugares atravessam os séculos e se tornam ainda mais densos de significados. E seguem imponentes: convidando, emocionando, seduzindo, atraindo, como monstros insaciáveis, devoradores de presenças, viciados em atenção humana.
Para estas paisagens naturais e urbanas, não passamos de pobres mortais, simples figurantes a testemunhar, por sucessivas gerações, a sua capacidade superior de sobrepujar o tempo.
Mais do que meros cenários para os nossos enredos, lugares se tornam personagens da nossa história e referências contextuais da nossa própria existência.
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